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concursos públicos de ingresso, acesso e remoção de professores.
Que ações implementar para que a escola mude ?
Para melhorar as condições pelas quais o ensino é ministrado nas escolas,
visando, universalizar o acesso, ou seja, a inclusão de todos,
incondicionalmente, nas turmas escolares e democratizar a educação,
sugerimos o que, felizmente, já está ocorrendo em muitas redes de ensino,
verdadeiras vitrines que expõem o sucesso da inclusão.
A primeira sugestão para que se caminhe para uma educação de qualidade é
estimular as escolas para que elaborem com autonomia e de forma
participativa o seu Projeto Político Pedagógico, diagnosticando a demanda, ou
seja, verificando quantos são os alunos, onde estão e porque alguns estão fora
da escola.
Sem que a escola conheça os seus alunos e os que estão à margem dela, não
será possível elaborar um currículo escolar que reflita o meio social e cultural
em que se insere. A integração entre as áreas do conhecimento e a concepção
transversal das novas propostas de organização curricular consideram as
disciplinas acadêmicas como meios e não fins em si mesmas e partem do
respeito à realidade do aluno, de suas experiências de vida cotidiana, para
chegar à sistematização do saber.
Como essa experiência varia entre os alunos, mesmo sendo membros de uma
mesma comunidade, a implantação dos ciclos de formação é uma solução
justa, embora ainda muito incompreendida pelos professores e pais, por ser
uma novidade e por estar sendo ainda pouco difundida e aplicada pelas redes
de ensino. De fato, se dermos mais tempo para que os alunos aprendam,
eliminando a seriação, a reprovação, nas passagens de um ano para outro,
estaremos adequando o processo de aprendizagem ao ritmo e condições de
desenvolvimento dos aprendizes - um dos princípios das escolas de qualidade
para todos
Por outro lado, a inclusão não implica em que se desenvolva um ensino
individualizado para os alunos que apresentam déficits intelectuais,
problemas de aprendizagem e outros, relacionados ao desempenho escolar.
Na visão inclusiva, não se segregam os atendimentos, seja dentro ou fora das
salas de aula e, portanto, nenhum aluno é encaminhado à salas de reforço ou
aprende, a partir de currículos adaptados. O professor não predetermina a
extensão e a profundidade dos conteúdos a serem construídos pelos alunos,
nem facilita as atividades para alguns, porque, de antemão já prevê q
dificuldade que possam encontrar para realizá-las. Porque é o aluno que se
adapta ao novo conhecimento e só ele é capaz de regular o seu processo de
construção intelectual.
A avaliação constitui um outro entrave à implementação da inclusão. É
urgente suprimir o caráter classificatório da avaliação escolar, através de
notas, provas, pela visão diagnóstica desse processo que deverá ser contínuo e
qualitativo, visando depurar o ensino e torná-lo cada vez mais adequado e
eficiente à aprendizagem de todos os alunos. Essa medida já diminuiria
substancialmente o número de alunos que são indevidamente avaliados e
categorizados como deficientes, nas escolas regulares.
A aprendizagem como o centro das atividades escolares e o sucesso dos
alunos, como a meta da escola, independentemente do nível de desempenho
a que cada um seja capaz de chegar são condições de base para que se
caminha na direção de escolas acolhedoras. O sentido desse acolhimento não
é o da aceitação passiva das possibilidades de cada um, mas o de serem
receptivas a todas as crianças, pois as escolas existem, para formar as novas
gerações, e não apenas alguns de seus futuros membros, os mais privilegiados.
A inclusão não prevê a utilização de métodos e técnicas de ensino específicas
para esta ou aquela deficiência. Os alunos aprendem até o limite em que
conseguem chegar, se o ensino for de qualidade, isto é, se o professor
considera o nível de possibilidades de desenvolvimento de cada um e explora
essas possibilidades, por meio de atividades abertas, nas quais cada aluno se
enquadra por si mesmo, na medida de seus interesses e necessidades, seja
para construir uma idéia, ou resolver um problema, realizar uma tarefa. Eis aí
um grande desafio a ser enfrentado pelas escolas regulares tradicionais, cujo
paradigma é condutista, e baseado na transmissão dos conhecimentos.
O trabalho coletivo e diversificado nas turmas e na escola como um todo é
compatível com a vocação da escola de formar as gerações. É nos bancos
escolares que aprendemos a viver entre os nossos pares, a dividir as
responsabilidades, repartir as tarefas. O exercício dessas ações desenvolve a
cooperação, o sentido de se trabalhar e produzir em grupo, o reconhecimento
da diversidade dos talentos humanos e a valorização do trabalho de cada
pessoa para a consecução de metas comuns de um mesmo grupo.
O tutoramento nas salas de aula tem sido uma solução natural, que pode
ajudar muito os alunos, desenvolvendo neles o hábito de compartilhar o
saber. O apoio ao colega com dificuldade é uma atitude extremamente útil e
humana e que tem sido muito pouco desenvolvida nas escolas, sempre tão
competitivas e despreocupadas com a a construção de valores e de atitudes
morais.
Além dessas sugestões, referentes ao ensino nas escolas, a educação de
qualidade para todos e a inclusão implicam em mudanças de outras condições
relativas à administração e aos papéis desempenhados pelos membros da
organização escolar.
Nesse sentido é primordial que sejam revistos os papéis desempenhados pelos
diretores e coordenadores, no sentido de que ultrapassem o teor controlador,
fiscalizador e burocrático de suas funções pelo trabalho de apoio, orientação
do professor e de toda a comunidade escolar.
A descentralização da gestão administrativa, por sua vez, promove uma maior
autonomia pedagógica, administrativa e financeira de recursos materiais e
humanos das escolas, por meio dos conselhos, colegiados, assembléias de pais
e de alunos. Mudam-se os rumos da administração escolar e com isso o
aspecto pedagógico das funções do diretor e dos coordenadores e supervisores
emerge. Deixam de existir os motivos pelos quais que esses profissionais ficam
confinados aos gabinetes, às questões burocráticas, sem tempo para conhecer
e participar do que acontece nas salas de aula.